Páginas

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Pico Paraná; O Gigante do Sul - 2º Dia

Sábado, 11 de novembro - Partida e acampamento



Após um beijo caloroso da esposa e enxugar algumas lágrimas da filha dizendo "pai, quero ir junto!" chegou às 2 horas da madrugada e a locomoção bateu na porta.
Meu amigo Jayder, que já enfrentava um pouco mais de 200 km's vindo de Florianópolis, me espantou quando saiu do carro. Esse cara não envelheceu um dia se quer desde que o tinha visto. Impressionante como uma amizade verdadeira pode passar tanto tempo sem ser abalada.
Com ânimos transbordando partimos ao destino tão desejado. As conversas, em grande parte sobre aventuras passadas, fizeram das 3 horas e meia somente um passeio no parque.
Com utilização do GPS não foi difícil encontrar a Fazenda Pico Paraná.
Após sermos recebidos e feito check-in por volta das 05:30 resolvemos aguardar os primeiros raios de Sol para enfrentar a trilha. Uma hora passada, os passos começaram.
As mochilas com 15 kg não pareceram problemas então o destino seria apenas uma consequência.
O clima havia prometido céu limpo intermitente, porém fomos enganados. Só havia chuva fina e gelada, fazendo das primeiras quatro horas de caminhada extremamente cansativas e pesadas.
Os caminhos são muito bem sinalizados e a trilha é aberta, acredito, em minha simples inexperiência, que não é possível alguém se perder por ali, mas por ser tão difícil acesso é necessário possuir algum aparato de comunicação com a base (celular, rádio).
Quando tanto tempo percorreu e não tínhamos noção de onde estávamos, porque nenhum de nós havia enfrentado o PP antes, resolvemos criar um abrigo provisório para nos proteger um pouco da chuva, tentar nos secar e beber um café quente para fortalecer os ânimos. 
Em meio tanta neblina e água vinda do céu, conversamos e concluímos que havia chego o momento da desistência... Continuar com tanto peso e tão molhados, sabe lá por quanto tempo, não parecia algo inteligente. 

Enquanto arrumamos as "tralhas" para voltar, um grupo, com cerca de 10 pessoas surgiram ao nosso encontro e nos forneceram as informações mais desejadas... Não faltava muito. Dava pra encarar!
No mesmo momento saímos do inferno e ascendemos aos céus. Esquecemos quaisquer dificuldades e rumamos de volta ao destino.
Passado mais uma hora, chegamos ao abrigo A1.
Se para todos nós já foi desgastante chegar até ali, fiquei imaginando as dificuldades que Rudolfo Stamm e Alfred Mysing enfrentaram, em 1941, em desbravar o caminho para o cume.
Saindo do A1 enfrentamos a crista, um dos locais mais belos nos quais coloquei meus pés, que consiste em andar entre dois desfiladeiros tendo como proteção somente alguns arbustos rígidos. Após o mergulho pelo corredor chegou o instante de subir novamente; era a vez de encarar os grampos até rumar para as últimas centenas de metros até chegar ao próximo abrigo. Confesso, foi mais fácil do que aparentava porque enquanto estamos embaixo dava medo.
Últimos esforços e chegamos ao A2, local escolhido para ancorar nossos pertences. 
O cansaço era evidente e resolvemos montar a barraca e repousar até mais tarde, quem sabe, atacar o cume antes que escurecesse. 
Com as roupas anteriormente molhadas esticadas por todo lado e com as barrigas bem cheias conforme merecido, comecei a me sentir mal...
Nada físico, pior, saudade!
Costumo passar os finais de semana longe de casa e nunca tive problemas com isso, mas especialmente nesse dia, senti muito falta da minha esposa e filhos. Havia sensação que algo estava errado e deveria estar do lado deles.
Resumindo, só ficava pensando e calculando como faria para voltar até a base antes que a noite tomasse conta de tudo, sem êxito, claro.
Estou convicto que fui a pior companhia em um trekking tão especial, enchendo a paciência de um grande amigo, só pensando ir embora; mas o Jayder aguentou firme (risos)!

O cume poderia esperar para o próximo dia. As pernas estavam doloridas demais e o vento começou a soprar forte demais. Ficamos horas observando a belíssima paisagem até a noite cair e o espetáculo do céu, no momento limpo, apresentou todas suas facetas.
Em cumes próximos lanternas brilhavam e, apesar do frio, brincamos emitindo sinais. Bons momentos de distrações.
Quando chegou a hora de dormir nem pensei... Desmaiei!
Simples assim.
Simples.
Assim.



Clique aqui para ler "Pico Paraná, O Gigante do Sul - 1º Dia"
Clique aqui para ler "Pico Paraná, O Gigante do Sul - 3º Dia"



Nenhum comentário:

Postar um comentário