Páginas

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

4º Revezamento 10 Milhas Morro Azul

O que eu deveria saber...?


O Morro Azul, situado em Timbó, é local no qual nunca havia colocado os pés e mesmo assim me assemelhava como algo místico e bucólico. Meu pai, residente dessa terra na juventude, sempre contou diversas histórias de trilhas e corridas que havia feito em tal cume da região. Meus olhos brilhavam e a vontade de compartilhar uma aventura por lá é algo que assombrou meus planos por um bom tempo.
Vislumbrei a possibilidade nessa prova de revezamento, porém entre os diversos amigos que possuo que são praticantes de tal esporte estão em condições de prática muito superiores ou muito inferiores a minha; não havia ninguém no mesmo pace para competir em parceria e eu optei em fazer a inscrição na categoria solo.
Eram somente 16km de prova até o cume. Como meses anteriores treinei bastante subidas e essa quilometragem é rotineira nas rodagens pensei que não haveria dificuldades em participar dessa corrida rústica e, quem sabe, até almejar um troféu novo para a estante da sala...
Às 6 horas da manhã saímos de Jaraguá do Sul rumo Timbó. A prova teria início às 8 horas e sempre procuro chegar com bastante antecedência podendo executar o aquecimento com calma e tentar aquietar os ânimos que ficam agitados antes de qualquer largada.

No meio do trajeto, nas portas do município de Pomerode, houve um problema com o carro do meu pai. Após alguns minutos de discussão e desespero abandonei minhas duas irmãs, que pela primeira vez assistiriam uma competição, e nosso pai na beira da estrada. Parti em busca de ajuda.
Foram 8 quilômetros necessários de corrida, lutando contra o relógio, até conseguir tomar o rumo desejado. Os minutos pareceram insultar minha pressa e cheguei a acreditar que não conseguiria participar daquela prova. Me doei muito mais que deveria, com a esperança de ainda chegar em tempo, nos caminhos da cidade mais alemã do Brasil.
Com problema sanado apressadamente estávamos em Timbó e partimos direto ao Parque Central. Me restaram 90 segundos para fazer a retirada do número de peito, lembrando que fui muito bem recebido pelos organizadores, e me posicionar para início dessa aposta.
Foto de Djemes Borges

5... 4... 3... 2... 1... E lá fomos nós!
A descrição que farei será apenas baseada em palpites porque não levei nenhum dispositivo para averiguar as reais distâncias citadas. Nada de relógios. Nada de GPS.
Os primeiros dois quilômetros foram cruzando a cidade em ruas de paralelepípedos, muito bem sinalizadas, até chegar em chão de terra batida. Fiquei contente que grande parte da prova seria realizada em estradas não pavimentadas; prefiro, porque meus treinos costumam ocorrer nesse tipo de terreno e assim me sinto um pouco mais próximo do mundo outdoor. O asfalto é muito denso, artificial, não sinto me aventurando sem que o corpo fique coberto de poeira. Mania de maluco, não dá bola...

Quilômetro quatro passei pelo primeiro posto de troca por aqueles esportistas que optaram por revezamento em grupo. Fiquei espantado com as arrancadas e vontades de vencer que vi em rostos prontos para disparar em nome de suas equipes. Ninguém estava brincando, ninguém queria falhar com os seus e isso não foi necessário ser dito em palavras.
Mais alguns quilômetros passados, mais um posto de troca deixado para trás e bastantes staffs abastecendo o pessoal com água. Tudo estava muito bem e cheguei a pensar que a competição se comportava de acordo com meus planos. Quando viesse o 12k e a verdadeira subida apresentasse, travando o tempo da grande maioria, eu, que tanto gosto de atacar cumes, teria alguma vantagem de resistência e poderia ultrapassar corredores.
Enfim chegou o temido quilômetro dez (temor pessoal) no qual, pela primeira vez em qualquer prova e/ou treino, quebrei!

Foi assim. De repente e sem avisar. Meus joelhos travaram, as panturrilhas ficaram rígidas e mal consegui colocar um passo em frente ao outro.
Quanto mais tentei forçar para continuar o ritmo, mais assisti competidores passarem com naturalidade. Não pude mais correr e decide caminhar.
Não me importei quanta dor estava sentindo, porque essa um dia iria passar, mas abandonar a prova é algo que jamais passou pela cabeça. Precisei continuar.
Faltando somente três quilômetros para o término do percurso, a inclinação aumentou substancialmente e ganhei companhia para desbravar essa árdua caminhada. Sandra Mara Bento Schneider me alcançou e me acompanhou com uma conversa muito bacana e descontraída. Sobre o quê? Corridas, é claro...
Esse bate-papo me fez esquecer um pouco a dor e o tempo passou mais rápido. Faltava pouco, algumas centenas de metros, quando ao nosso encontro veio Giuliano, esposo da Sandra, após já ter completado a sua corrida, para nos dar palavras de estímulo para acabar a prova.

Um casal que já havia visto em competições anteriores, porém não sabido. Só me arrependo de não ter conhecido antes. Eles são muito atenciosos e excelentes competidores! Não tenho certeza, mas acredito que ambos conquistaram troféus...
Na reta final, Sandra me disse "vamos lá, vamos correr pelo menos agora" se referindo aos últimos minutos de caminhada e eu disse "vamos", dei dois passos e respondi "não, vai você!". A dor era real e não suportável. Entrei no funil caminhando.
Do lado esquerdo pude ver meu pai e minhas irmãs na torcida, mas o que me surpreendeu foi um grito surgido da direita em meio várias pessoas dizendo "vai, Johnathan". Achei estranho porque o número de peito não constava nome do atleta e, até ponto que sei, não conhecia ninguém daquela região que pudesse reconhecer.
Foto de Djemes Borges

Cruzei a linha de chegada, recebi uma belíssima medalha e identifiquei o autor do grito misterioso. Djemes Borges é o nome desse guerreiro que conheci virtualmente através de escritos feito esse. Ele acompanha as postagens, comenta algo interessante e sempre acrescenta palavras importantes nas experiências que escrevo.
Eu estava tão desanimado, decepcionado, com muita dor que acabei sendo babaca! 
Trocamos algumas palavras, mas não dei a devida atenção necessária. O Djemes é um cara tão legal e determinado nos esportes que ele por si só merece uma matéria contando sua história. Nem se quer pedi para tirar uma foto desse encontro; mas garanto que ainda vamos cruzar em alguma linha de chegada juntos e, com certeza, quero ter a honra de possuir uma imagem imortalizada ao lado desse camarada. Vou usar uma das frases que ele já usou: "Parabéns, já sou teu fã."

A prova acabou e eu vim para casa refletindo sobre todo ocorrido e após horas de lamentação pude compreender o significado desse dia.
A quebra foi a melhor coisa que poderia me acontecer...
Eu me iludia em uma autoafirmação que meu preparo físico estava em condições plenas e bem treinadas. Pensava que esse negócio de "quebrar" era desculpas daqueles que não tinham resistência e determinação. Achava que era praticamente um super herói e seria somente uma questão de tempo para ganhar todas as provas. Pensava que conquistar as primeiras colocações e carregar troféus era minha obrigação como atleta amador...
Sou humano, muitas vezes errante, e hoje entendo que jamais quis correr. Eu só queria ganhar. E isso nunca me fez um bom competidor, mas sim, um idiota querendo ser melhor do que os outros...
Aprendi a lição! Vou mudar minha postura e conto com o apoio de vocês, do outro lado dessa tela, em me cobrar esse espírito esportivo quando me encontrar em alguma competição. Só quero me divertir e fazer amigos. Só quero contar uma boa história. Só quero correr...

Se você gostou desse post, se identificou ou tem uma história pra contar, deixe aqui nos comentários.

Me ajudem compartilhar os relatos que surgem das pistas para que mais pessoas possam compreender o amor que sentimos em praticar.

Curta a fanpage e não esqueçam do sorteio que está rolando.

Bora treinar,
Abraços






Nenhum comentário:

Postar um comentário